segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Nise Magalhães da Silveira (1905 - 1999)


Nasceu em Maceió - Alagoas. Conhecida nos meios acadêmicos como Nise da Silveira, com 15 anos ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, formando-se em 1926 com a tese Ensaio sobre a criminalidade das mulheres da Bahia. Em 1927 vai para o Rio de Janeiro, onde freqüenta a clínica de neurologia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, recebendo grande influência de Antônio Austregésilo.
Em 1933 foi aprovada em concurso para médica psiquiatra da antiga Assistência a Psicopatas e Profilaxia. Participou, em 1935, da União Feminina do Brasil, entidade de defesa dos direitos das mulheres vinculada à Aliança Nacional Libertadora. No ano seguinte foi presa como comunista e afastada do serviço público até 1944. Nesse ano iniciou seu trabalho no Hospital Psiquiátrico Pedro II, que havia sido transferido da Praia Vermelha para o Engenho de Dentro. Durante o período em que esteve afastada, novos "tratamentos" haviam surgido: choque elétrico, coma insulínico e lobotomia. Sempre se recusou a utilizar tais métodos pelo fato de se assemelharem à tortura que havia visto na prisão.
A partir dessa oposição à psiquiatria tradicional, assumiu a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação. Do material produzido nos ateliês de pintura e modelagem, fundou, em 20 de maio de 1952, o Museu de Imagens do Inconsciente, centro de tratamento e pesquisa. A partir da série de imagens do inconsciente, percebeu inúmeras tentativas de reordenação, fato que contrariava todos os estudos acerca da produção plástica de internos de hospitais psiquiátricos. O autor que possibilitou uma nova inflexão teórica para esses fatos foi Carl Gustav Jung, de cujos estudos foi a precursora, de maneira sistemática, no Brasil. Em 1954, fundou o Grupo de Estudos C.G. Jung, oficializado em 1969. Nesse período, esteve à frente de inúmeros empreendimentos: em 12 de novembro de 1954, enviou carta a Jung acompanhada de fotos de desenhos circulares e, um mês depois, Aniella Jaffé, secretária e colaboradora de Jung, respondeu-lhe dizendo que o médico suíço havia se interessado muito pelas mandalas pintadas por esquizofrênicos; em 1956 fundou a Casa das Palmeiras, clínica em regime aberto; em 1957 participou do II Congresso Internacional de Psiquiatria em Zurique, iniciando estudos no Instituto C.G. Jung, ao qual retornou em 1958/1961/1962/1964; em 1968 fundou o grupo de estudos do Museu de Imagens do Inconsciente.
Foi aposentada compulsoriamente no dia 14 de julho de 1975, porém, no dia seguinte, compareceu ao hospital dizendo-se a nova estagiária voluntária. Nesse ano organizou as comemorações do Centenário de Jung no Museu de Arte Moderna - RJ. Entre 1983 e 1986 escreveu os textos da trilogia Imagens do inconsciente do cineasta Leon Hirszman, e, no início dos anos 90, liderou um movimento contra a farra do boi em Santa Catarina. Durante sua vida recebeu vários títulos e homenagens, dentre os quais: Doutora Honoris Causa/Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Medalha Chico Mendes/Grupo Tortura Nunca Mais, Membro Fundadora da Société Internationale de Psychopatologie de l’Expression (Paris-França), Prêmio de Melhor Livro de Ensaios/Academia Brasileira de Letras (O mundo das imagens), Membro da Comissão de Honra/Museo Attivo delle Forme Inconsapevoli (Gênova-Itália). No dia 28 de janeiro de 1998 foi indicada pelo Deputado Federal Paulo Delgado para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz. Faleceu em 1999 no Rio de Janeiro.
Publicações:
SILVEIRA, Nise da (Org.). A farra do boi: do sacrifício do touro na Antigüidade à farra do boi catarinense. Rio de Janeiro: Numen, 1989.
SILVEIRA, Nise da (Org.). Casa das palmeiras: a emoção de lidar. Rio de Janeiro: Alhambra, 1986.
SILVEIRA, Nise da. 20 anos de terapêutica ocupacional em Engenho de Dentro (1946-1966). Revista Brasileira de Saúde Mental, v. 12, 1966.
SILVEIRA, Nise da. C. G. Jung e a psiquiatria. Revista Brasileira de Saúde Mental, v. 7, 1962/1963.
SILVEIRA, Nise da. Cartas a Spinoza. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.
SILVEIRA, Nise da. Considerações teóricas e práticas sobre ocupação terapêutica. Revista  Medicina e Cirurgia, n. 194, 1952.
SILVEIRA, Nise da. Editorial: 40 Anos do Museu de Imagens do Inconsciente. Jornal Brasileiro de             Psiquiatria, v. 41, n. 4, p. 147, maio1992.
SILVEIRA, Nise da. Ensaio sobre a criminalidade das mulheres na Bahia. [S.l.]: Imprensa Oficial, 1926.
SILVEIRA, Nise da. Gatos: a emoção de lidar. Rio de Janeiro: Léo Christiano, 1998.
SILVEIRA, Nise da. Imagens do inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.
SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1968.
SILVEIRA, Nise da. L’expérience d’art spontané chez les schizophrènes dans un service de thérapeutique occupationelle. Revista Brasileira de Saúde Mental, v. 3, dez. 1957. (em colaboração com Pierre Le Gallais)
SILVEIRA, Nise da. Museu de Imagens do Inconsciente. In: PEDROSA, Mário (Org.). Museu de Imagens do Inconsciente. Rio de Janeiro: Funarte/Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1980.
SILVEIRA, Nise da. O homem em busca de seu mito. In: LUCCHESI, Marco (Org.). Artaud: a nostalgia do mais. Rio de Janeiro: Alhambra, 1989.
SILVEIRA, Nise da. O mundo das imagens. São Paulo: Ática, 1992.
SILVEIRA, Nise da. Perspectiva da psicologia de C.G. Jung. Revista Tempo Brasileiro, n. 21/22,     1970.

Fonte:www.cliopsyche.uerj.br

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